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Brasileiros Recorrem a Carcaça de Frango e Espinha de Porco para Enfrentar Alta dos Alimentos

Brasileiros Recorrem a Carcaça de Frango e Espinha de Porco para Enfrentar Alta dos Alimentos

Famílias adotam cortes menos nobres para driblar inflação e garantir proteínas na alimentação.

A contínua pressão inflacionária sobre os preços dos alimentos no Brasil tem forçado muitas famílias a readequarem seus hábitos de consumo, buscando alternativas mais econômicas para garantir as refeições diárias. Cortes de carne antes considerados menos nobres, como a carcaça de frango e a espinha de porco (conhecida como suã), ganharam espaço nos cardápios como opções viáveis diante das dificuldades financeiras.

Essa realidade é exemplificada pela história de Ionara de Jesus, moradora do Parque Santo Antônio, na zona sul de São Paulo. Responsável pelo sustento de três filhos, ela relatou à imprensa que a carcaça de frango se tornou uma solução. Com cerca de R$ 30, ela adquire uma peça de aproximadamente 4 kg, que, com criatividade, rende refeições por até duas semanas. "A gente inventa, né? Faz uma sopa, refoga, cozinha uma canja", explica Ionara, ilustrando a resiliência necessária para lidar com o orçamento apertado.

Assim como a carcaça de frango, a suã (espinhaço suíno) também viu seu consumo aumentar. Embora seja um ingrediente tradicional em algumas regiões, como no Sul do Brasil (Paraná e Santa Catarina), onde protagoniza pratos como a quirera com suã (sua popularidade recente está mais atrelada ao baixo custo do que apenas à tradição culinária.

O cenário é reflexo direto da inflação alimentar que, apesar de flutuações, continua a pesar no bolso do consumidor. Dados do IBGE de períodos anteriores já indicavam altas expressivas – como os 7,69% acumulados em um ano reportados previamente – e itens básicos como café e ovos chegaram a registrar aumentos alarmantes (50% e 40%, respectivamente, em períodos específicos). Embora indicadores mais recentes possam mostrar alguma variação, a percepção geral é que o custo da alimentação continua elevado, tornando produtos essenciais quase artigos de luxo para muitos.

Diante dessa substituição de cortes mais nobres por opções mais baratas e muitas vezes menos nutritivas, especialistas alertam para os riscos. A advogada Léa Vidigal, autora do livro "Direito Econômico e Soberania Alimentar", destacou em entrevista que a redução no consumo de proteínas de alto valor biológico pode comprometer o desenvolvimento infantil e acentuar as desigualdades sociais, impactando a segurança alimentar e nutricional da população mais vulnerável.

O governo federal tem implementado medidas na tentativa de frear a escalada dos preços, como a desoneração de impostos sobre a importação de alguns alimentos básicos. Contudo, para muitas famílias, o impacto dessas ações no orçamento doméstico ainda é limitado ou demora a ser sentido. Enquanto um alívio mais substancial não chega, a criatividade na cozinha e a busca por alternativas acessíveis continuam sendo as principais ferramentas dos brasileiros para enfrentar o desafio da inflação alimentar.

Vitor Polinski

Vitor Polinski

Vitor Gabriel Polinski é Sócio e COO da Libertom LLC, além disso é redator da Libertom News, trazendo análises aprofundadas sobre liberdade financeira, tecnologia e mercados digitais. Com experiência em marketing estratégico e gestão empresarial, seu foco é traduzir temas complexos em insights acessíveis, conectando inovação e conhecimento para a nova economia.