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O vice-presidente dos EUA, JD Vance, provocou líderes europeus ao diminuir a importância do continente nas negociações de segurança, enquanto Trump se aproxima de um acordo com Putin. A Europa enfrenta um dilema crescente sobre sua posição na geopolítica global.

Os gemidos e olhares ansiosos deram lugar ao silêncio quando o vice-presidente dos EUA, JD Vance, assumiu o centro do palco em Munique para criticar os aliados de longa data dos Estados Unidos, colocando a Europa em uma posição desconfortável. Durante sua fala, Vance desprezou a União Europeia, tratando o bloco como um exemplo de um governo excessivamente grande que limita a liberdade econômica das empresas americanas. A ofensiva de Vance chocou os líderes europeus e levantou questões sobre o futuro da parceria transatlântica.

Apesar da crescente hostilidade de Washington, a realidade é que a Europa teve anos para se fortalecer e tomar medidas para garantir sua própria posição no cenário global. A invasão da Ucrânia pela Rússia já faz três anos e, ainda assim, a Europa não se preparou adequadamente para os desafios geopolíticos. O ministro das Relações Exteriores da Estônia, Margus Tsahkna, descreveu a situação como "existencial", refletindo a crescente urgência de uma resposta unificada da Europa.

Em resposta a essa mudança de dinâmica, o presidente francês, Emmanuel Macron, tenta convocar uma reunião de emergência de líderes europeus para avaliar como lidar com a nova postura dos EUA. O ataque de Vance, durante a Conferência de Segurança de Munique, simboliza a mudança nas relações internacionais, comparando com eventos históricos como o acordo de 1938 entre o Reino Unido e Adolf Hitler, onde tentaram evitar o conflito de forma fracassada.

Vance e outros membros do governo de Trump têm reiterado um ponto central: os EUA estão se distanciando do papel de liderança tradicionalmente desempenhado no continente europeu. Em uma entrevista, Vance afirmou que a Europa já não tem mais a garantia de apoio dos EUA em momentos de crise, sugerindo que os tempos de uma América sempre pronta para intervir estão acabando. Para os líderes europeus, esse novo cenário exige uma reflexão urgente sobre o papel do continente no futuro global.

O temor crescente entre as autoridades da Europa é que, ao reduzir o apoio à Ucrânia, Trump possa permitir que Putin explore as fraquezas da OTAN e desafie as fronteiras orientais da aliança. Tsahkna alertou para a possibilidade de um teste para a OTAN, caso Putin continue com sua ofensiva.

Por muitos anos, os líderes europeus discutiram a necessidade de uma estratégia de defesa mais coesa, mas até agora, os esforços não conseguiram avançar de maneira substancial. A Alemanha, em particular, se opôs à criação de um mecanismo de empréstimos conjuntos para defesa europeia, o que teria sido um passo importante para aumentar os gastos com segurança.

Após a reunião de Vance, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy observou que Trump nunca mencionou a necessidade de um envolvimento europeu nas discussões sobre o fim da guerra. “Os velhos tempos acabaram — quando a América apoiava a Europa só porque sempre apoiou”, disse Zelenskiy, refletindo a nova realidade geopolítica.

A Europa agora enfrenta um dilema profundo: enquanto se prepara para os desdobramentos das negociações sobre a segurança da Ucrânia, muitos temem que a aproximação de Trump com Putin coloque o continente em uma posição ainda mais vulnerável. O Primeiro-Ministro polonês, Donald Tusk, apelou para que os líderes da UE elaborassem um plano agora, antes que as negociações com Putin avancem sem uma estratégia clara por parte da Europa.

O panorama geopolítico está mudando rapidamente, e a Europa deve decidir se se adapta à nova realidade ou corre o risco de ser deixada para trás nas negociações cruciais que moldarão o futuro da segurança e da ordem mundial.

Eduardo Suárez

Eduardo Suárez

Eduardo é jornalista e comentarista político, com uma visão crítica sobre os eventos que impactam a política, a economia e as questões sociais. Suas colunas provocam reflexões e convidam seus leitores a questionar o status quo.