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Poilievre Contra Trump: Aposta em Recursos Naturais e Soberania para Fortalecer o Canadá

Poilievre Contra Trump: Aposta em Recursos Naturais e Soberania para Fortalecer o Canadá

Diante das ameaças tarifárias de Trump, o líder conservador canadense Pierre Poilievre apresenta um plano ousado para reforçar a economia nacional, centrado em energia, infraestrutura e patriotismo. Enquanto isso, o debate político interno ganha força com Trudeau e Carney defendendo abordagens alternativas.

O cenário político canadense está em efervescência enquanto o líder conservador Pierre Poilievre apresenta uma visão ambiciosa para enfrentar as crescentes tensões comerciais com os Estados Unidos. Em um discurso inflamado em Ottawa no último sábado, Poilievre delineou um plano estratégico que busca transformar o Canadá em uma potência econômica autossuficiente, menos dependente de seu vizinho do sul. O discurso ocorreu em meio a preocupações crescentes sobre as políticas protecionistas promovidas pelo ex-presidente Donald Trump, cujas ameaças tarifárias têm colocado o Canadá em alerta.

“Não podemos mais depender apenas dos americanos para nosso comércio”, declarou Poilievre diante de uma multidão de quase 2.000 apoiadores, muitos vestindo as cores nacionais vermelho e branco. “Essas ameaças são um chamado para despertar.” O evento, intitulado “Canada First”, foi marcado por um forte tom patriótico, refletindo uma resposta direta às declarações de Trump sobre o Canadá se tornar o “51º estado” americano.

No centro da proposta de Poilievre está a construção de uma "economia leste-oeste", conectando as vastas reservas de petróleo e gás de Alberta às províncias marítimas através de oleodutos e gasodutos. Ele prometeu eliminar barreiras comerciais entre as províncias e revogar a lei de avaliação ambiental do governo Trudeau dentro dos primeiros 60 dias após assumir o poder, facilitando a aprovação de projetos de infraestrutura energética. Além disso, destacou a necessidade de fortalecer as fronteiras canadenses com milhares de guardas florestais e novos navios quebra-gelo para a Marinha, além de estabelecer a primeira base militar no Ártico desde a Guerra Fria.

O líder conservador também adotou uma postura firme contra possíveis tarifas impostas pelos EUA. “Responderemos dólar por dólar a qualquer taxa aplicada aos nossos produtos”, afirmou. Sua estratégia inclui cortes de impostos, aumento da produção de energia e investimentos em mineração e portos para ampliar o acesso a mercados internacionais.

Um Contraponto ao Protecionismo Americano
Poilievre usou parte de seu discurso para enviar uma mensagem clara ao governo americano. Ele apresentou duas opções: ou os EUA optam por uma guerra comercial prejudicial, forçando consumidores americanos a pagar mais e enfraquecendo ambos os países, ou trabalham juntos para fortalecer suas economias. “Qual outro país vocês prefeririam ter como vizinho? E se o Canadá não é seu amigo, quem é?”, questionou.

Embora o discurso tenha sido bem recebido por seus apoiadores, ele também gerou críticas de adversários políticos. Mark Carney, candidato à liderança liberal, acusou Poilievre de usar retórica semelhante à de Trump e questionou sua capacidade de negociar em nome do Canadá. Durante um evento paralelo em Montreal, onde assistiu a um jogo de hóquei entre Canadá e EUA, Carney disse que confiaria mais em qualquer cidadão canadense comum do que em Poilievre para representar os interesses nacionais.

“Ele está tentando se enrolar na bandeira para parecer patriota, mas essa é a última cartada de um oportunista”, afirmou Carney em uma entrevista ao podcast de Anthony Scaramucci.

Uma Disputa Nacional em Evolução
A posição de Poilievre nas pesquisas tem oscilado nos últimos meses. Embora inicialmente estivesse à frente como favorito absoluto para vencer as próximas eleições, sua liderança diminuiu à medida que questões relacionadas à soberania e segurança fronteiriça ganharam destaque no debate público. Trump intensificou os ataques verbais ao Canadá, criticando sua política migratória e acusando o país de permitir o fluxo de drogas, especialmente fentanil, para os EUA.

Em resposta, Poilievre prometeu medidas enérgicas contra o tráfico de drogas, afirmando que tais iniciativas não são feitas para agradar Trump, mas sim para proteger famílias canadenses. “Não estou fazendo isso por ele”, declarou. “Estou fazendo isso para que nenhum pai canadense precise chorar a perda de um filho.”

Patriotismo e Política Doméstica
O discurso de Poilievre coincidiu com o 60º aniversário da adoção da icônica bandeira de folha de bordo, símbolo do orgulho nacional canadense. A ocasião foi celebrada por apoiadores que agitavam bandeiras e cantavam hinos patrióticos, contrastando com os esforços de Trudeau e Carney para manter o foco nas questões domésticas.

Os liberais lançaram um contra-ataque, acusando Poilievre de ser um "Trump canadense" e criticando suas propostas como uma ameaça ao meio ambiente e à justiça social. Um anúncio recente dos conservadores rotulava Carney como “Carbon Tax Carney”, insinuando que suas políticas aumentariam os impostos dos canadenses. Em resposta, os liberais retrucaram, afirmando que Poilievre carece de credibilidade para liderar o país em momentos de crise.

Enquanto isso, o debate continua a polarizar o eleitorado canadense. Para alguns, Poilievre representa uma chance de reafirmar a independência econômica e política do Canadá. Para outros, ele encarna uma ameaça à estabilidade ambiental e social conquistada sob lideranças anteriores. Com a disputa pela liderança ainda em andamento e as eleições se aproximando, fica claro que o futuro do Canadá será moldado tanto por suas relações externas quanto por suas escolhas internas.

Eduardo Suárez

Eduardo Suárez

Eduardo é jornalista e comentarista político, com uma visão crítica sobre os eventos que impactam a política, a economia e as questões sociais. Suas colunas provocam reflexões e convidam seus leitores a questionar o status quo.