Copom Eleva Selic para 14,75% ao Ano: Maior Patamar em Quase 20 Anos e Nova Fase na Política Monetária Brasileira

Copom Eleva Selic para 14,75% ao Ano: Maior Patamar em Quase 20 Anos e Nova Fase na Política Monetária Brasileira

Em sua reunião de 7 de maio de 2025, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto percentual, levando-a de 14,25% para 14,75% ao ano. Com isso, o Brasil atinge o maior patamar de juros desde agosto de 2006, marcando o sexto aumento consecutivo no atual ciclo de aperto monetário. A decisão, que já era amplamente esperada pelo mercado, reflete a preocupação crescente com a inflação persistente, a deterioração das expectativas e o ambiente de incerteza global.

Contexto da Decisão

A elevação da Selic vem em meio a uma conjuntura desafiadora: inflação acima da meta, pressão cambial, valorização do dólar, aumento dos preços de alimentos e combustíveis, além do impacto indireto das políticas tarifárias dos Estados Unidos sob Donald Trump. A inflação acumulada em 12 meses, medida pelo IPCA, chegou a 5,49% em abril — consideravelmente acima do centro da meta oficial de 3%, com teto de tolerância de 4,5%.

O Copom justificou a decisão afirmando que “o cenário inflacionário permanece desafiador”, e que o comitê optou por reforçar a postura contracionista para garantir a convergência da inflação à meta em 2026.

Sinais e Expectativas Futuras

O comunicado oficial manteve a mensagem de que futuras decisões dependerão da evolução dos dados. O Banco Central não se comprometeu com novas altas, mas indicou que a política monetária continuará “vigilante e firme” enquanto os riscos inflacionários se mantiverem elevados.

Entre os fatores que influenciarão as próximas decisões estão:

  • A dinâmica de inflação nos núcleos e difusão de preços

  • A evolução das expectativas do mercado para 2026 (atualmente em 3,6%)

  • A política fiscal do governo federal e sua compatibilidade com o arcabouço fiscal

  • O comportamento do mercado de trabalho e o consumo das famílias

Impactos na Economia

1. Crédito e consumo:
Com a Selic a 14,75%, o crédito tende a encarecer ainda mais, reduzindo a capacidade de consumo das famílias e os investimentos produtivos por parte das empresas. Já se observa uma desaceleração na concessão de crédito ao setor privado e aumento na inadimplência.

2. Câmbio e mercado financeiro:
A elevação da Selic ajuda a conter a desvalorização do real, que vinha pressionado pela fuga de capitais para mercados mais seguros diante das tensões internacionais. Após a decisão, o dólar chegou a recuar levemente, mas ainda permanece acima de R$ 5,70, em patamares considerados preocupantes.

3. Atividade econômica:
Economistas alertam que, embora a alta dos juros seja necessária para ancorar expectativas, o prolongamento desse aperto monetário pode enfraquecer a retomada da economia em 2025. O crescimento projetado para o ano já foi revisado para baixo por diversas instituições.

Análise Técnica: Por que 14,75%?

A escolha por um aumento de 0,50 p.p., e não de 0,75 p.p., reflete um equilíbrio buscado pelo Copom entre manter o combate à inflação e evitar um choque maior na economia real. O comitê considera que parte da pressão inflacionária atual é inercial ou externa — e, portanto, menos sensível à política monetária tradicional.

Além disso, o Copom quer evitar transmitir sinais que reforcem uma percepção de descontrole. Ao não acelerar o ritmo de altas, ele também deixa espaço para avaliar os efeitos defasados dos aumentos anteriores, que costumam impactar a economia com um intervalo de três a seis meses.

Repercussão no Mercado e na Política

A decisão do Copom foi bem recebida pelos investidores, que já precificavam o movimento. Entretanto, setores produtivos e lideranças políticas demonstraram preocupação. Representantes da indústria criticaram a manutenção dos juros em patamar “inibidor de crescimento”, enquanto parlamentares da base do governo pressionam por uma redução mais rápida.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reafirmou o compromisso com o equilíbrio fiscal e defendeu a necessidade de coordenação entre a política monetária e fiscal para reduzir os juros de forma sustentável. Já o presidente Lula, embora tenha evitado declarações diretas sobre a decisão, reiterou que “não se pode crescer com juros abusivos”.

Conclusão

Com a Selic em 14,75% ao ano, o Brasil atinge uma das taxas reais de juros mais altas do mundo. O Copom envia um recado claro de compromisso com o controle inflacionário, mas caminha sobre uma linha tênue: conter a alta de preços sem sufocar ainda mais o crescimento econômico. Os próximos meses serão cruciais para avaliar se essa estratégia será bem-sucedida ou se o custo da contenção será alto demais.

Vitor Polinski

Vitor Polinski

Vitor Gabriel Polinski é Sócio e COO da Libertom LLC, além disso é redator da Libertom News, trazendo análises aprofundadas sobre liberdade financeira, tecnologia e mercados digitais. Com experiência em marketing estratégico e gestão empresarial, seu foco é traduzir temas complexos em insights acessíveis, conectando inovação e conhecimento para a nova economia.