A trajetória da política monetária brasileira ganhou novos contornos nesta semana com declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo. Em evento recente, Galípolo reforçou que a combinação de inflação resistente, efeitos defasados de juros anteriores e elevado grau de incerteza econômica deve levar o Comitê de Política Monetária (Copom) a optar por manter ou até elevar a Selic em sua próxima reunião.
A posição de Galípolo ecoa preocupações crescentes dentro do BC e do mercado financeiro sobre a eficácia das reduções anteriores de juros e a resiliência da inflação em setores importantes da economia.
Inflação resiliente e efeitos defasados preocupam o BC
O diretor destacou que parte dos cortes promovidos na Selic ainda não se refletiram totalmente na atividade econômica, dado o tradicional efeito defasado da política monetária. Ao mesmo tempo, a inflação de serviços segue elevada, dificultando o retorno do IPCA para a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.
Galípolo apontou que mesmo com a desaceleração de alguns indicadores recentes, o núcleo da inflação — que exclui itens mais voláteis — continua rodando acima do desejado, o que exige prudência do Banco Central.
Incerteza fiscal e cenário externo pressionam decisões
Outro fator citado por Galípolo é a elevada incerteza, tanto no campo interno, em função das dúvidas sobre a trajetória fiscal do governo, quanto no cenário internacional, com as perspectivas de juros mais altos nos Estados Unidos por mais tempo.
Esses elementos aumentam o prêmio de risco exigido para ativos brasileiros, o que impacta diretamente o câmbio e retroalimenta pressões inflacionárias, reforçando a necessidade de uma política monetária mais conservadora no curto prazo.
Mercado ajusta apostas
Após as falas de Galípolo e outros membros do Banco Central, o mercado financeiro ajustou suas apostas, e boa parte dos agentes já precifica a possibilidade de manutenção da Selic no atual patamar ou, em um cenário de maior cautela, um novo aumento da taxa básica de juros na próxima reunião.
Hoje, a Selic está em 10,50% ao ano, após uma sequência de cortes que, segundo o BC, precisa ser reavaliada diante das novas condições econômicas.
Perspectivas: pausa ou novo ciclo de alta?
A sinalização de Galípolo deixa claro que o Banco Central permanece sensível aos riscos inflacionários e à instabilidade externa. Embora parte do mercado ainda aposte em um ciclo de manutenção da Selic nos próximos meses, a possibilidade de novos ajustes para cima não está descartada, especialmente se os próximos indicadores reforçarem o diagnóstico de que a inflação segue disseminada e resistente.
Em um ambiente em que a confiança é frágil e a inflação ameaça se perpetuar acima da meta, o Banco Central parece disposto a sacrificar parte do crescimento no curto prazo para garantir a estabilidade de preços — ainda que isso implique decisões impopulares.