Friedrich Merz, líder da União Democrata Cristã (CDU) e favorito para se tornar o próximo chanceler da Alemanha, demonstrou abertura para discutir a emissão conjunta de títulos de defesa pela União Europeia. A medida pode marcar um ponto de virada no esforço do bloco para fortalecer sua segurança em meio à agressão russa e ao enfraquecimento do apoio dos EUA.

Friedrich Merz, líder conservador e possível próximo chanceler da Alemanha, indicou que está disposto a considerar a ideia de um financiamento comum de defesa dentro da União Europeia. Essa posição representa uma mudança significativa e pode ser um divisor de águas no momento em que o bloco enfrenta desafios crescentes, como a ameaça russa e o declínio do envolvimento dos Estados Unidos na região.

Ao participar de um painel na Conferência de Segurança de Munique no sábado, Merz foi questionado sobre a possibilidade de suavizar as regras da UE para permitir a emissão de "títulos de defesa" — instrumentos financeiros que viabilizariam empréstimos conjuntos para projetos de segurança. Embora tenha adotado uma postura cautelosa, ele não descartou a ideia completamente, desde que algumas condições fossem atendidas.

“Estou aberto a qualquer debate sobre recursos, mas não aceitarei que falemos apenas sobre dinheiro”, afirmou Merz. Ele destacou que os europeus precisam discutir opções de gastos comuns durante a próxima cúpula da OTAN, marcada para junho em Haia. Para o líder da CDU, qualquer decisão sobre financiamento conjunto deve ser unânime e refletir um compromisso genuíno de todos os membros da UE.

Essa flexibilidade marca uma mudança em relação às posições anteriores de Merz, que havia rejeitado a ideia de dívida compartilhada para financiar a defesa. No entanto, com o apoio norte-americano cada vez mais incerto — especialmente diante das iniciativas de Donald Trump para encerrar a guerra na Ucrânia por meio de um acordo controverso com Vladimir Putin —, os líderes europeus estão sob pressão para encontrar maneiras de garantir sua própria segurança.

Merz enfatizou que qualquer proposta de financiamento conjunto deve estar alinhada aos objetivos da OTAN e exigir um esforço verdadeiramente colaborativo entre os países-membros. “Se isso for uma combinação de tudo, eu poderia concordar”, disse ele. “Se não, não estou disposto a aceitar isso.”

O cenário de segurança na Europa tornou-se mais sombrio nos últimos anos, com a invasão russa da Ucrânia servindo como um alerta claro para o continente. Merz advertiu que os líderes da UE precisam acordar para a realidade de um possível ataque. “Se não ouvirmos o chamado para acordar agora, pode ser tarde demais para toda a UE”, declarou.

Enquanto isso, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, também sinalizou avanços significativos no reforço das defesas europeias. Em entrevista durante o encontro em Munique, ela anunciou que um grande pacote financeiro está em preparação, comparando-o em magnitude às respostas da UE às crises do euro e do coronavírus.

“Lançaremos um grande pacote que nunca foi visto nesta dimensão antes”, afirmou Baerbock. “Semelhante ao euro ou à crise do corona, agora há um pacote financeiro para a segurança na Europa. Isso virá em um futuro próximo.”

As declarações de Merz e Baerbock refletem uma crescente consciência na Europa de que o bloco precisa assumir maior responsabilidade por sua própria defesa. Com o presidente dos EUA, Donald Trump, promovendo negociações para encerrar a guerra na Ucrânia — muitas vezes em detrimento dos interesses europeus —, o debate sobre como financiar a segurança coletiva ganha urgência. O vice-presidente dos EUA, JD Vance, também causou polêmica ao criticar duramente a cultura política europeia durante a conferência, expondo tensões profundas nas relações transatlânticas.

Nesse contexto, a abertura de Merz para discutir títulos de defesa comuns pode ser vista como um passo crucial para unir os países da UE em torno de uma estratégia de segurança mais robusta e independente. Resta saber se os líderes europeus conseguirão superar suas divisões internas e transformar essas ideias em ações concretas.

Eduardo Suárez

Eduardo Suárez

Eduardo é jornalista e comentarista político, com uma visão crítica sobre os eventos que impactam a política, a economia e as questões sociais. Suas colunas provocam reflexões e convidam seus leitores a questionar o status quo.