Economista-Chefe do Goldman Sachs vê mais espaço para o dólar recuar no Brasil

Economista-Chefe do Goldman Sachs vê mais espaço para o dólar recuar no Brasil

Alberto Ramos, Economista-Chefe do Goldman Sachs para a América Latina, avalia que o dólar ainda tem espaço para cair frente ao Real brasileiro. Ele fundamenta essa visão no atrativo diferencial de juros do Brasil e nos preços das commodities, apesar de reconhecer a recente e recorde fuga de dólares no primeiro trimestre de 2025 como um fator de atenção no cenário atual.

Em meio a um cenário global de incertezas e com o mercado financeiro brasileiro atento aos fluxos de capital e à política econômica interna, a trajetória do dólar americano frente ao Real brasileiro continua sendo um dos temas mais debatidos. Nesse contexto, a análise de Alberto Ramos, Economista-Chefe do Goldman Sachs para a América Latina, ganha destaque ao apontar que a moeda americana ainda possui "mais espaço para cair".

A avaliação de Ramos, sugere que, apesar das oscilações e de períodos de volatilidade, os fundamentos macroeconômicos atuais ainda favorecem uma potencial valorização adicional do Real. Essa perspectiva contrasta, em certa medida, com dados recentes que mostram desafios, como a notável fuga de dólares registrada no primeiro trimestre de 2025, que atingiu a marca histórica de US$ 15,8 bilhões, o pior resultado da história para o período, conforme apontado por indicadores de fluxo cambial.

Os Pilares da Análise do Goldman Sachs

A visão de Ramos, que sustenta a tese de um dólar com potencial de baixa, geralmente se apoia em um conjunto de fatores interligados, que incluem:

  1. Diferencial de Juros (Carry Trade): Um dos principais atrativos para o capital estrangeiro no Brasil tem sido a taxa básica de juros (Selic) comparativamente alta em relação às taxas de juros em economias desenvolvidas, como os Estados Unidos. Esse diferencial cria um ambiente favorável para operações de "carry trade", onde investidores tomam empréstimos em moedas com juros baixos (como o dólar) para aplicar em ativos denominados em moedas com juros altos (como o Real), buscando o ganho na diferença das taxas e, potencialmente, na valorização da moeda local. Mesmo com expectativas de cortes futuros na Selic, o diferencial ainda pode ser considerado atrativo.
  2. Preços das Commodities: O Brasil é um grande exportador de commodities agrícolas, minerais e energéticas. Períodos de preços elevados para esses produtos no mercado internacional tendem a aumentar a receita de exportação do país, elevando a oferta de dólares no mercado interno e, consequentemente, pressionando a cotação da moeda para baixo. A resiliência ou alta nos preços de importantes commodities exportadas pelo Brasil pode ser um fator de suporte para o Real.
  3. Cenário Global e Apetite por Risco: Em momentos de maior otimismo nos mercados globais ou quando há uma busca por diversificação para fora dos ativos considerados mais seguros (como títulos do Tesouro Americano), os investidores tendem a direcionar recursos para mercados emergentes, incluindo o Brasil. Esse influxo de capital estrangeiro (financeiro e/ou produtivo) aumenta a demanda por Reais, contribuindo para a desvalorização do dólar.

A Contradição dos Fluxos Recentes

Apesar da análise de Ramos apontar para um potencial de queda adicional, os dados do primeiro trimestre de 2025 sobre a fuga recorde de dólares representam um ponto de atenção e, possivelmente, um contraponto no curto prazo. Essa saída líquida de capital pode ser reflexo de diversos fatores, isolados ou combinados:

  • Piora das Expectativas Fiscais: Preocupações com a trajetória da dívida pública brasileira, a dificuldade em atingir metas fiscais e a expansão de gastos públicos podem gerar cautela em investidores e levar à realocação de recursos para mercados percebidos como menos arriscados.
  • Cenário Político Interno: Instabilidades políticas ou incertezas sobre o rumo das reformas estruturais podem afugentar investimentos.
  • Repatriação de Lucros/Dividendos: Empresas estrangeiras atuando no Brasil podem ter intensificado a remessa de lucros e dividendos para suas matrizes.
  • Mudanças Pontuais no Apetite por Risco: Eventos globais específicos ou mudanças na percepção de risco podem ter levado a uma saída mais concentrada em determinado período.

A análise do Goldman Sachs, portanto, provavelmente considera esses movimentos de curto prazo como barulho no contexto de tendências mais amplas ditadas pelos fundamentos de médio prazo (como juros e commodities), ou vê essa fuga recente como algo que pode ser revertido ou mitigado por outros fatores em períodos subsequentes.

Implicações de um Dólar Mais Baixo

Se a projeção de Alberto Ramos se concretizar e o dólar realmente recuar mais, as implicações para a economia brasileira seriam diversas:

  • Controle da Inflação: Um dólar mais baixo torna as importações mais baratas, o que pode ajudar a aliviar a pressão inflacionária sobre bens e insumos que dependem de componentes importados.
  • Viagens e Consumo no Exterior: Fica mais barato para os brasileiros viajarem para o exterior e consumir produtos importados.
  • Dívida Externa: O custo do serviço da dívida externa denominada em dólar diminui para o governo e para empresas.
  • Competitividade das Exportações: Por outro lado, um dólar mais baixo pode reduzir a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional, tornando-os relativamente mais caros para compradores estrangeiros. Setores voltados para a exportação podem sentir esse impacto.
  • Concorrência com Importados: Indústrias nacionais que concorrem com produtos importados podem enfrentar maior concorrência.

Olhando para Frente

Apesar da visão otimista do Goldman Sachs sobre o potencial de queda do dólar, é fundamental que o mercado continue monitorando de perto os riscos. A condução da política fiscal brasileira, a evolução do cenário político, as decisões de política monetária nos Estados Unidos (Fed) e as condições econômicas globais são variáveis que podem alterar rapidamente a trajetória da moeda.

A análise de Alberto Ramos oferece uma perspectiva baseada nos fundamentos tradicionais que impulsionam a valorização do Real, mas o recorde de fuga de capitais no início de 2025 serve como um lembrete da fragilidade e da sensibilidade do mercado de câmbio brasileiro a choques e percepções de risco, sejam eles internos ou externos. A confirmação ou não do potencial de queda apontado pelo Goldman Sachs dependerá da evolução conjunta de todos esses fatores nos próximos meses.

Vitor Polinski

Vitor Polinski

Vitor Gabriel Polinski é Sócio e COO da Libertom LLC, além disso é redator da Libertom News, trazendo análises aprofundadas sobre liberdade financeira, tecnologia e mercados digitais. Com experiência em marketing estratégico e gestão empresarial, seu foco é traduzir temas complexos em insights acessíveis, conectando inovação e conhecimento para a nova economia.